direito ao contraditório

"they send one of us to the hospital, we send one of them to the morgue. That's the Chicago way"
Malone, the Untouchables

Numa utilização do direito ao contraditório, não consigo deixar de responder ao post do Helder, tão estruturalmente pensado.
Há muito quem defenda que o futebol português é um espelho de todo o seu tecido industrial e até do seu povo. Espertalhão, trapaceiro, oportunista, aldrabão, dado às aparências, pejadinho de palmadinhas nas costas, fleumas de clubismo, traidores, gritos de revolta e dedos apontados por supostamente sérios a supostamente corruptos. E há o Sporting.
Eu, benfiquista, tb vejo as coisas assim. Obviamente há ovelhas negras no bando como Dias Ferreira ou outros que tais, mas o Sporting, na sua fase pós Roquette, tem mostrado sempre como deveria ser em vez disto.E tenho pena que em vez de seguir o exemplo, o Benfica, e esta presidência, ajam, tantas e tantas vezes, como o sistema faz e não como manda a ética, o bem e a educação. Óbvia, e factualmente, o Sporting tem errado em decisões de gestão, quer na sempre mais vísivel face dos recursos humanos, quer, por exemplo, no aproveitamento do espaço comercial do Alvaldade XXI. Factualmente, desde a presidência de Roquette, o Sporting foi campeão duas vezes em 6 anos (mais ou menos), ganhou duas taças e chegou a uma final europeia, tendo pelo caminho produzido campeões como Figo, Simão, Ronaldo ou Quaresma, para falar só nos mais vísiveis. Também dizem os livros anuais que financeiramente o clube está em maus lençóis, que a Academia é megalómana, que não há dinheiro para reforços. Mas o ser, o estar, o agir, é sempre elevado, sempre digno, sempre dirigente. As excepções serão Dias da Cunha nos dias maus, as claques com demasiado peso e as sucessivas crises disciplinares. Mas o selo de honradez e distinção está lá, mesmo entre o notáveis que vão aparecendo cada vez em maior número.
E o Benfica? O que dizer do caminho da dupla VV? Vieira, vindo do dirigismo desportivo e do negócio dos pneus, sempre esteve nas montras dos media como um beligerante, um destimido, um justiceiro, com tudo o que isso tem de necessário ao saber em que estado estava o Benfica quando chegou (notaveis, dinheiros, futebois e tudo o mais) , mas que também trouxe o ridículo das falhas de português, dos pés em cima do corrimão a ver a bola, dos ataques pessoais e das faltas de chá. Veiga, é uma figurinha tenebrosa. Pequenino, vindo do Luxemburguinho, tem pinta de gajo a quem eu não comprava um carro. É mal dizente, gosta de se ouvir falar, é o rei das indirectas, fala dos àrbitros, enfim...é mais um iguais ao Loureiros, Pimentas, Costas, Ferreira Torres, Cintras e todos os outros.
Mas...
Mas a verdade é que entre o mundo do seria bom e o do é mesmo assim, o Benfica, com esta direcção, tem conseguido o que lhe fugia. Porquê? Porque José Veiga não é só a fachada, tb é um homem forte e de convicções. Um dirigente astuto, cumpridor, homem de palavra e personalidade forte. Porque Vieira não é só gritos e nomeadamentes, é também um homem de sacríficios, com imenso espírito de missão, humilde, lutador e acima de tudo, muito trabalhador. E isso também se pega. Estar na organização Benfica, olhar para cima e ver um homem que não tem férias, inaugura casas do Benfica doente para vender dois kits, sacrifica a familia, a vida pessoal e profissional e que luta pelo que foi, é e será preciso para que o Benfica saia a ganhar, incute no mínimo respeito.
E ser forte internamente, ser uno, permite conquistar novas praças, como a da Liga de Clubes ou a da Alegria. Vide Porto durante tantos e tanto anos.
Resumindo, se na forma o Benfica tem muito a rever, na substância o Benfica evoluiu, modernizando-se, e pode até ser só futebol, mas a curva é ascendente no Benfica como não é em mais clube nenhum. Pelo menos, até Maio.
Finalizo concordando, esperançoso, que tenhamos ambos razão. Seja este o momento da viragem, da nova página do futebol português, com a força e capacidade de trabalho de uns e a conduta de outros.
Um abraço,
Guifes